sábado, 15 de setembro de 2012

A solidão na arte - Costa Araujo

Widow in black - loneliness - 2005

Take five - break in work - 2001
Para examinar um quadro, é necessário um esforço maior, uma operação mais complexa. Foi realmente o pintor — ou o escultor — quem efetuou por nós a operação acima descrita. É, portanto, a solidão da pessoa ou do objeto representado que nos é restituída, e nós, que olhamos, para percebê-la e sermos tocados por ela, devemos ter uma experiência não da continuidade, mas da descontinuidade do espaço.

Cada objeto cria seu espaço infinito. Se olho o quadro, como disse, percebo-o em sua solidão absoluta de objeto como quadro. Mas não é isso que me preocupa. E sim o que a tela deve representar. O que eu quero apreender em sua solidão é simultaneamente essa imagem que está sobre a tela e o objeto real que ela representa.

Devo então primeiro tentar isolar em seu significado o quadro como objeto (tela, moldura etc.), para que ele deixe de pertencer à imensa família da pintura (mesmo que retorne mais tarde) e que a imagem sobre a tela se ligue à minha experiência do espaço, ao meu conhecimento da solidão dos objetos, dos seres ou dos acontecimentos, como descrevi acima.

Quem nunca ficou maravilhado com essa solidão, não conhecerá a beleza da pintura. Se disser o contrário, mente. (de Jean Genet, in “O ateliê de Giacometti”)

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